E finalmente 2020 chega e eu realmente acredito que as coisas estão melhorando, afinal, Sérgio já tinha data de início no trabalho novo, morávamos num bom bairro, o primeiro semestre havia terminado e eu já estava entendendo o idioma. Carnaval coroa essa alegria e pudemos aproveitar a festa, que jamais chegará aos pés do nosso carnaval, mas havia alegria, havia fantasia, havia purpurina.
15 DIAS!
Esse foi o tempo que durou entre o carnaval e tudo desmorar de forma tão rápida. A pandemia chegou e tivemos nosso primeiro lockdown já na metade de março, uma situação que durou até junho. Foi um período bem ruim, afinal, o que é covid? Como assim pandemia? Lockdown? De onde veio? Como para isso? Máscara, luvas e álcool? Realidade completamente diferente.
A ansiedade intensa, que chegava tímida em 2019, meteu o pé na porta e arrompou a porra toda. Era uma mistura de medo, raiva, pânico, não saber o que fazer, viver trancada e colocar a minha mente pra rodar 24/7. Foram semanas sem dormir, foram dezenas de pesadelos, foram incontáveis currículos enviados para tentar segurar as pontas. Mudamos de casa e de bairro, afinal, o dinheiro já estava escasso. Emagrecemos muito, a comida também não era abundante. Tínhamos muita dor de cabeça, muito choro e muita dúvida sobre tudo.
Definitivamente, um 2020 para esquecer, eu achava. Confesso, que ainda me sinto meio presa em fevereiro de 2020, com a sensação de que está tudo em suspenso. Diante de tantos sintomas, voltei à terapia. Era mais que preciso. As coisas começaram a melhorar no final de novembro, quando Sérgio finalmente conseguiu um emprego e, no início de dezembro, eu conseguiria um emprego estável e com salário melhor. Vacinas apareceram e começaram a salvar muitos ao redor do mundo. Parecia que 2020 se despediria com boas notícias e eu, ansiosa e iludida que sou, acreditei que as coisas pudessem estar melhorando, finalmente.
Mas dezembro ainda reservou um novo baque: a morte repentina do pai do Sérgio. Como ele pode ter morrido, se falamos com ele anteontem? Do nada? Como assim? E eu me vi, internamente, refazendo as peguntas que somente a morte poderia responder. A morte, que pra mim é um ser místico, dotado de um poder incrível e ao mesmo tempo sublime, é o maior pânico que eu - pessoa que gosta de ter o controle sobre tudo - tenho. Eu me vi diante de algo que eu não podia fazer nada, absolutamente nada, para mudar. Passei por poucas mortes durante a minha vida. De pessoas próximas, apenas meu avô, quando eu tinha 17 anos. Nunca parei para pensar na morte dele, nem em nenhuma outra. Nunca fui à um enterro, só entrei em um cemitério como turista em Minas (durante o dia e fiquei 10 minutos, no máximo). Sim, eu tenho verdadeiro pânico de morte, não falo sobre, não penso sobre, evito e finjo que ela nunca existe. Mas quando ela aparece perto de você, você não tem como negar e aí, toda a minha grande questão com ela ressurge forte e a terapia não parece estar dando tanto conta assim.
2020 parecia mesmo que não teria fim!
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