2021 - O 2020 CONTINUA
E parece mesmo que 2020 não teve fim.
Aproveitei o novo ano para focar em mim, eu sabia que estava com muita coisa para resolver e eu não podia e não queria mais resolver problema de ninguém. Aumentei as sessões, entrei pra terapia floral, iniciei medicação, tentava meditação e final de janeiro trouxe o segundo lockdown. Gente, não há pessoa sã que aguente!
2021 inicia com um novo lockdown e número de casos cada vez mais alarmante. Mudo os perfis seguidos no Instagram, paro com podcast, me alieno com Big Brother, tudo numa tentativa de não olhar o mundo real e me permitir respirar um pouco, ter outros assuntos. Mas passar mais 3 meses num novo lockdown, 1 ano após o início da pandemia me baqueou, eu perdi o tesão pelas coisas, tudo se tornava pesado de fazer, tudo parecia pedir um planejamento prévio para tentar ser feito, compras, um café uma ida ao parque, tudo devia ser arquitetado para conseguir acesso, ter tempo, estar menos cheio... uma dança das cadeiras.
Primeiro trimestre termina, a agonia de não terminar a dissertação me consome, orientadora não responde, coordenadora uma pessoa ruim, o tema (que envolve política) me tira do sério... parece que nada vai pra frente, nada anda. Desisto do mestrado. 2 semanas depois, me dobro e volto pra ele, conectada num mantra de aceitar tudo o que disserem pra fazer e seguir, afinal, eu só quero terminar. Mas nem só de força de vontade e um desconfinamento (com várias etapas e que durou mais meses que o próprio lockdown) seriam feitos meu 2021.
Lockdown, a dissertação parada, não há vida nas ruas, o mundo tá parado. Bolsonaro destruindo tudo o que pode e matando, por escolha, milhares de pessoas. Evitava assuntos de política e de pandemia. Pesadelos, insônias. Surtei! Foi um péssimo ano, no geral.
O desconfinamento começa, novos empregos chegam, o sol começa a aparecer, apesar de ainda estar frio. Os remédios já apresentam resultados, começo a me sentir e dormir melhor. Mas ainda filmes e séries eu ainda não conseguia assistir, afinal 2 horas "parada olhando pra uma tela" me causa uma agonia e eu prefiro "estar fazendo alguma coisa". Inclusive, durante a pandemia, descobri que eu precisava estar sempre fazendo alguma coisa, todo mundo fazia tudo, como "só" eu não estava dando conta? Eu também TINHA que fazer e assim temos uma ansiedade que não te deixa dormir. rs
Além de tudo, 2021 trouxe a dor e a tristeza como eu não queria ter sentido. Meu tio querido (mesmo), daqueles de acampar, de estar em casa, de vivenciar festas, natais e a companhia, um dos mais próximos, o irmão mais grudado do meu pai, o mais animado das festas, o mais brincalhão e com as piores piadas, se foi. Entre a aparição da doença, a internação e sua partida não passuo um mês, cheguei a falar com ele por mensagem, mas ele deixou a minha última sem resposta.
Suas últimas palavras foram: "avisa a minha família que eu vou voltar". Mas ele não cumpriu a promessa. E essa promessa não cumprida causa uma dor que o tempo vai amenizar, mas jamais vai fechar. Eu não vou esquecer do olhar do meu pai indo receber a notícia, a luta que foi pra não deixar meu pai ir ao hospital, mas sabendo que ele deveria ir. Afinal, era o cara que dividia o mesmo tênis que meu pai quando criança, era o cara que fazia ficha de orelhão falsa com meu pai quando mais novos, era o cara que sempre esteve com meu pai, em todas as fases da vida e agora, não está mais. Ele não verá meu pai ficar um velho ranzinza, meu pai não o verá ficar um velho com piadas tão sem graça.
Eu escrevo esse post e choro, porque ainda há dor. Mas mais que dor, há raiva, indignação, ódio.
2021 não para e nem a vida dos que ficaram. Segundo semestre chega com a decisão de estar mais focada em mim, de cuidar mais de mim, de estar mais comigo e, obviamente, isso se refletiria na relação falida que eu continuava insistindo em ter, movida a migalhas. A vida precisa acontecer e eu preciso viver, porque ainda estou aqui... então, após mais de 11 anos (contanto tudo, inclusive o tempo separado), termino meu mais longo namoro. Apesar de saber que era inevitável, o novo amedronta, a incerteza, a insegurança... então, não foi fácil nem menos doloroso.
Mudança de casa, de relação, de vida.... tomeu coragem e raiva, terminei a tese no último prazo, entreguei, finalizei esta etapa. Mudei de casa de novo, agora, para uma só minha, morando sozinha, independente, dona de mim e cheia de medo e incerteza... retorno com as amizades perdidas pelo caminho doloroso que foi até aqui, mantenho terapia, menos um remédio aqui, sessões mais espaçadas ali, novos amigos pelo caminho. Parece que desci o m+aximo que podia para voltar com as asas abertas, voando para um novo caminho que eu ainda estava descobrindo.
As dores, ficaram todas. Mais amenas devido ao tempo, mas aqui ainda. As cicatrizes, não as escondo. Por vezes, penso em tudo e tenho a certeza que tudo aconteceu como deveria ter acontecido (exceto as mortes da pandemia sob o governo genocida). Tudo acontece como tem que acontecer, a gente só precisa lidar com isso e só "lidar" já dá um trabalho enorme. Eu lidei como pude: fraca, deprimida, sem expectativas, sem amor próprio, até começar a evoluir, ter mais autonomia, mais independência, mais autocuidado, mais carinho por mim, mais responsabilidade afetiva e financeira, mais atenciosa.
Sinto por ter tudo que passar por isso tudo, mas tenho orgulho de estar onde estou hoje.
Comentários
Postar um comentário