2013: o início da crise brasileira

Mais um artigo de opinião sobre a política brasileira, mais precisamente sobre as grandes manifestações que ocorreram no país em 2013. Essas manifestações e a consequente vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais de 2014 foram o barril de pólvora para que o país mergulhasse em um crise política e econômica que perdura até os dias atuais. Ainda farei uma análise sobre a fase atual do Brasil, diante do governo Bolsonaro para entendermos a gravidade da situação iniciada em 2013.

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Junho de 2013, o Brasil explode! Insatisfações sociais, políticas e econômicas levam os brasileiros às ruas para reivindicarem melhorias, originadas pelo aumento de 20 centavos da tarifa dos transportes públicos. O lema “não são só 20 centavos” faz com que muitas classes e grupos sociais encontrem nas ruas à saída para que seus apelos sejam ouvidos pelas três esferas de poder: municipal, estadual e federal, com maior ênfase no federal.

Problemas como transportes caros e precários, desemprego, baixos salários, saúde pública caótica, educação pública com escassos investimentos fazem o ano iniciar em plena efervescência de ideias e exigências, com manifestações públicas sendo marcadas com bastante frequência e números cada vez mais gradativos de aderentes. Os governos não as percebiam como ameaças, pelo contrário, as legitimavam, por serem movimentos democráticos; mesmo com o crescente número de pessoas, na maioria jovens, que buscavam mudança do sistema econômico e político existente, inclusive.

Com o passar das semanas e das crescentes manifestações, o questionamento que começava a surgir não era sobre sua legitimidade, mas sim, sobre o que as alimentava; estariam elas sendo apenas reações de uma insatisfação popular coletiva ou estavam sendo alimentadas por outros atores ainda não identificados? Citado também pelo jornalista Alexandre Tambelli (2017), o aparecimento de outras instituições iniciam durante esse período, visando dar voz às exigências da sociedade, legendas como o Movimento Passe Livre (MPL), que organizava a luta por tarifas dignas e o Movimento Brasil Livre (MBL), que organizava parcela da sociedade contra políticos e governos, que em sua análise prejudicavam o país; levaram mais de 1 milhão de brasileiros às ruas do Brasil, em mais de 25 estados, incluindo a capital federal.

Muitos políticos aproveitaram as ondas das ruas e se envolveram de alguma forma no movimento; visualizando a oportunidade, o MBL percebeu que poderia ser ouvido por esses atores políticos. Para isso, a estratégia utilizada por eles foi o famoso lobby; atividade há muito tempo praticada, mas não regulamentada pelo país; onde o lobista intervém junto ao poder legislativo para que as reivindicações daqueles que representa sejam atendidas. Conforme cita Amanda Ayres (2018, p. 47): “Durante a campanha pelo impeachment, foi visto que era necessário convencer parlamentares indecisos. ...mapear votos e atuar como lobista no Congresso, não só na campanha pelo impeachment, mas em vários projetos de lei que o movimento acompanha.” Ou seja, o MBL fez lobby junto ao legislativo brasileiro, pela saída da presidenta Dilma Rousseff e para algumas outras exigências, afirmando serem estes os interesses da sociedade brasileira.

Dentro desse cenário, culminado pelo impeachment da presidenta, o lobby mostrou-se eficiente, ao permitir alinhamento de interesses, de forma estratégica e inteligente. O sociólogo Manuel Castells (2012) assegura que o poder é exercido pela coerção ou pela manipulação; para o Brasil de 2013, a manipulação sobressaiu como ferramenta valiosa do lobby praticado. A foto de membros do MBL junto aos senadores do Congresso Brasileiro, quando estes protocolaram o pedido de impeachment, tornou-se representativa sobre o que a atividade é capaz de fazer, quando bem executada.

(imagem: revista Galileu)



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