Resolvi compartilhar aqui um artigo menor, feito para o mestrado. Sobre um assunto tão atual e que atinge a todos, em diferentes níveis, a escalada do conservadorismo no Brasil e de uma ideologia mais pautada na meritocracia e no liberalismo é um tema que tem ganhado cada vez mais destaque e relevância, principalmente por meios digitais. E quando descobre-se que o Youtube ajudou/ajuda nessa escalada, o que fazer?
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A onda extrema direita em todo o mundo não é um fato que possui apenas uma causa; é um conjunto de fatores que faz países flertarem intensamente com um regime de opiniões contrárias à democracia vigente. Com discursos conservadores, contra políticas sociais e prometendo resoluções salvadoras para os problemas sociais, a direira radical – como também é conhecida, apoia-se na ala religiosa que invade cada vez mais a política brasileira e na parcela populacional que não possui informações suficientes para questionar a veracidade das mensagens recebidas.
Para Ariel Goldstein (2018), “o tipo de interpelação construída por estes novos espaços representa uma busca ambiciosa para conquistar a agenda pública a setores mais amplos, a construção de uma ‘maioria silenciosa’.”; que teve expansão após a crise política que culminou na saída de Dilma Rousseff da presidência e complementa: “Atualmente, os grupos da “direita radical” no Brasil têm a sua maior expressão eleitoral na figura do candidato presidencial Jair Bolsonaro.”
Porém, como essa ascensão aconteceu no Brasil tão ampla e rapidamente? A resposta vem das redes sociais, mais precisamente do Youtube, plataforma de vídeos. Como os próprios apoiadores da direita afirmam: “seu movimento não teria subido tão longe, tão rápido, sem o mecanismo de recomendação do YouTube.” (Fisher & Taub, 2019). Para piorar, testes comprovaram essa afirmação, quando algoritmos de pesquisas e recomendações desviaram os usuários para canais com a temática direitista e de conspiração. (Fisher & Taub, 2019).
Rodrigo Ghedin (2019) explica que análise feita com mais de 17 mil rankings de “em alta” da plataforma, quando vídeos estão sendo mais vistos, no segundo semestre de 2018, mostrou que “...canais até então irrelevantes – que nunca tinham aparecido no ranking – explodiram no período eleitoral, recomendados milhares e milhares de vezes pelo algoritmo do YouTube...”. Ou seja, há influência direta dos algoritmos da rede nos conteúdos assistidos, de forma a incentivar e até insistir que determinados vídeos sejam consumidos pelos usuários.
A resposta da plataforma foi retirar a monetização de alguns criadores de conteúdo associados ao discurso de ódio, vídeos com apologia ao nazismo, a forma de compartilhamento automático ao curtirem um vídeo e, com essa última ação, conseguiu reduzir a indicação de vídeos de extrema direita de 7,8% para 0,4% (Wakka, 2019). Mas é preciso mais, visto que a onda radical que acontece no Brasil não é exclusiva deste; é necessário que as políticas do Youtube melhorem, que vídeos radicais ou com discursos de ódio sejam retirados e seus criadores punidos, já que retirar a monetização ainda mantém o vídeo disponível; e os algoritmos devem ser refinados e elaborados para analisar conteúdos previamente, evitando repetir o que aconteceu no Brasil com responsabilidade compartilhada pelo Youtube.
Ademais, é recomendado se posicionar adequadamente diante das situações de pressão social, não é cabível que o Youtube mantenha-se neutro, escondido no dilema entre liberdade de expressão e censura; entender que discurso de ódio não é opinião e que políticas radicais de extrema direita – como conservadorismo, separação racial e étnica; e inferiorização de grupos minoritários – não deve ser tolerada.
(imagem The Intercept)
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