Vamos falar um pouquinho sobre como a comunicação se desenvolveu junto e através da globalização, esse processo tão famoso e inerente à sociedade que muitos sequer sabem seu significado. Esse é um texto que serviu de artigo final para uma cadeira do mestrado, espero que gere debate, questionamento e uma boa nota. rs
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Globalização é um processo amplamente debatido e investigado há anos por diversos segmentos que compõem a sociedade, seja sob olhar econômico, industrial, financeiro, político ou comunicacional. Seus efeitos, causas e propósitos foram e continuam sendo examinados frequentemente por vários profissionais que pretendem identificar os motivos pelos quais ela e suas atividades impactam de forma tão profunda no mundo. Sabendo disso, este trabalho pretende analisar como a globalização auxilia e influencia o desenvolvimento da Comunicação e como esta, por sua vez, impacta esse processo global, criando uma ligação que se sustenta pela ajuda mútua de desenvolvimento, divulgação e aprimoramento. É pretendido descrever momentos importantes que marcaram os anos 1980 do século XX, 2000 e 2019 do século XXI, a fim de entender o progresso da Comunicação durante a Globalização, iniciando como uma relação tímida, para uma relação entrosada, elaborada e cada vez mais colaborativa.
Introdução
Pensar em globalização atualmente é enxergar o mundo sem fronteiras geográficas ou linguísticas, com transações comerciais, políticas e econômicas entre vários países, com povos mais entrosados e mais entendidos de suas atividades e seus impactos no mundo. Porém a atividade de globalizar é mais elaborada, longa, densa e contínua que essas sintetizações; de fato, é um processo que continua acontecendo cada vez mais rápido e otimizado, seja nos setores comercial e político, seja no setor das comunicações; sendo este último bastante influente no processo, que permite benefícios e prejuízos a ambos, cada qual à sua maneira.
Por sua vez, comunicação é um processo de interação, onde torna-se necessária a participação de duas ou mais pessoas, através de signos linguísticos e significados que permitem o entendimento da mensagem, caracterizada pela troca de informações. O entendimento de Ruesch (1972, pp. 82-83) corrobora essa ideia, quando ele afirma que “uma ação se torna uma mensagem quando é percebida tanto pelo próprio ser quanto por outras pessoas.” Ou seja, a organização da comunicação acontece quando há o processo de decodificação da mensagem, sendo apenas possível, quando há um entendimento preliminar; é necessário haver, no mínimo, duas pessoas para que seja considerada troca, relação, comunicação.
Nota-se, portanto, que ambos estudos se baseiam em trocas, sejam de informações, sejam de transações econômicas; e que diversos cenários impactam positiva e negativamente sua relação. Entretanto, é importante perceber que uma das ligações mais fortes que ambos possuem é o comportamento da sociedade, enquanto respostas aos estímulos que lhe são sugeridos; permitindo, por exemplo, o surgimento de uma comunicação otimizada, ao ponto de termos notícias em tempo real na ponta dos dedos. Uma evolução que permitiu um processo robusto e cheio de aparatos, tornar-se arcaico e, atualmente, apresentar um cenário muito modificado, seja em conteúdo, seja no consumo.
Para compreender mais claramente o caminho percorrido pela comunicação ao longo de décadas, com a ajuda do caminhar da globalização, o presente trabalho pretende analisar as décadas de 1980 do século XX e as décadas de 2000 e 2019 do século XXI, pontuando as formas sob as quais a comunicação foi apresentada e compreendendo o momento político e econômico em que estava inserida no mundo, com o auxílio das definições e teorias de alguns autores que elaboraram trabalhos sobre o tema e que permitirão melhor entendimento de como discorreu as evoluções que são presenciadas nos dias de hoje.
1980 – Era da Informação e da Globalização
A década de 1980 ficou conhecida como a Era da Informação e da Globalização devido ao seu boom de informações e acordos econômicos, onde a quantidade destes eram, notoriamente, mais elevados quanto na década anterior. Os meios de comunicação tradicionais, impressos, rádio e televisão eram os meios mais disseminados da época, que faziam chegar a todo canto informações sobre as decisões políticas e econômicas que aconteciam em diversos países, mas mais sobre seus próprios. Porém, suas características inviabilizavam uma comunicação contínua, uma vez que os impressos, ao terminar suas leituras, não mais serviam para o resto do dia; e os aparelhos eletrônicos eram grandes demais para serem portáteis.
Essa ligação dos indivíduos com as tecnologias existentes permitiu confirmar uma das teorias do filósofo Marshall McLuhan (1962), desenvolvida ainda na década de 1960, que cunhava o termo ‘aldeia global’ para designar grupos de pessoas, que viviam interligados por meio das novas mídias e tecnologias, encurtando suas distâncias. Essa confirmação impactaria diretamente na definição do processo de comunicação feita pelo filósofo e sociólogo Jurgen Habermas (1981), onde este afirmava que o entendimento mútuo deveria chegar a um acordo entre as partes, a fim de permitir a harmonização das suas apresentações de mundo; uma vez que essa harmonização também deveria se dar entre a sociedade e o mundo.
Ou seja, com uma comunicação massificada, homogênea, linear e sem possibilidade de resposta por parte de seus receptores, ela era um objeto de estudo cada vez mais explorado e uma forma de divulgação bastante trabalhada por setores políticos e econômicos, já que permitia que a mensagem fosse absorvida, sem que fosse questionada ou refutada. Para McLuhan (1964), o mundo seria amplamente modificado pelas interações entre comunicação e globalização, já que havia uma interdependência entre essas tecnologias e os indivíduos, que alteraria sua harmonia e relação, assim como a organização global. Ele ainda complementa com a seguinte explicação: “...as consequências pessoais e sociais de qualquer meio - ou seja, de qualquer extensão de nós mesmos - resultam da nova escala que é introduzida em nossos negócios por cada extensão de nós mesmos ou por qualquer nova tecnologia.” (McLuhan, 1964, p. 7); onde as extensões significam as mídias, que se tornavam cada vez mais presentes na vida da sociedade.
Exemplos dessa nova organização mundial puderam ser vistos nos diversos blocos globais, também podendo ser chamadas de aldeias globais, que surgiram nesse período, como o Mercosul, o NAFTA e o Espaço Schengen, cujos objetivos eram liberar fronteiras entre si, possuir vantagens econômicas, livre comércio e livre trânsito de bens e pessoas entre seus membros. Essas novas regras ampliavam a relação entre as novas mídias e o esse movimento econômico, que visava quebrar barreiras, aproximar culturas, unificar linguagens e incentivar as pessoas a transitarem pelo globo.
2000 – Novo Milênio e a Internet
Com o avançar dos anos, a tecnologia se desenvolveu de forma exemplar, impulsionando a comunicação e a globalização, que pareciam cada vez mais intrínsecos. Um dos mais importantes avanços foi a comercialização ao nível pessoal dos computadores, aparelhos eletrônicos que permitiam conexão por rede telefônica. Ou seja, ele permitia o acesso a dados e informações de forma rápida, através da World Wide Web, que consiste num enorme sistema que reúne diversos documentos e que pode ser acessado pela internet, ou seja, por uma rede de computadores interligadas; a pessoas comuns, empresas, indústrias, governos.
A internet não se limitaria e logo seria a base de diversas profissões, assim como ferramenta indissociável de vários setores, como política, economia e comércio, sendo peça fundamental para o progresso das relações globais e interpessoais. Nesse caso, surge o conceito de ciberespaço, lugar criado, desenvolvido e vivido dentro da nova rede; que alimenta a sociedade, em alta velocidade, de novidades, mudanças e conexões. Essa agilidade de transformação é citada pelo filósofo Pierre Levy (1999, p. 24) como “a dificuldade de analisar concretamente as implicações sociais e culturais da informática ou da multimídia é multiplicada pela ausência radical de estabilidade desse domínio. (...) A interconexão de computadores continua em ritmo acelerado.”
Segundo Gama (2012), o cenário econômico, por sua vez, apresentava um PIB mundial moderado, entretanto com um volume comercial bastante elevado. Nesse período, as fronteiras pareciam não mais existir, a nova moeda única da União Europeia, o euro, começava a transitar, facilitando ainda mais as operações entre seus países; o G20, grupo com as 20 maiores economias do mundo, surge em substituição ao G8, ampliando negociações e as escalas de suas consequências, como descreveu Caldeira (2011). Com um cenário, onde a tecnologia estava em ebulição e a economia em processos de transformações, o que a comunicação reservaria ao mundo de novo?
Todos esses acontecimentos mundiais facilitaram a disseminação dos computadores e da internet, ampliando a divulgação de dados, além da inclusão de serviços de notícias, conversas e pesquisa online, o que permitia um acesso rápido às informações e a aproximação de pessoas; como sintetiza bem o psicólogo Marcelo da Silveira (2004, p. 42): “A sociedade em rede, através da mídia e da internet, é o resultado de transformações econômicas, tecnológicas, sociais e culturais que abrangem todo o planeta, fenômenos esses chamados genericamente de globalização.” Ainda dentro desse cenário, tiveram início as redes sociais, plataformas digitais que ambicionavam ser um ambiente que permitia compartilhar fotos e vídeos, aproximar pessoas e culturas; e ampliar alcance de dados e informações, com abrangente integração entre seus adeptos. Seguindo a isso, tornaram-se as ferramentas de acesso à uma sociedade cada vez mais online, que crescia em níveis de receita, acesso e cobertura; podendo ser consideradas os instrumentos de transição do mundo offline, para o mundo online; de forma exponencial, irrecuperável e em larga escala.
2019 – Real Time e a Revolução Digital
Com o avançar dos anos, a economia mundial tornou-se assunto amplamente debatido, suas conquistas e progresso tornaram-se debates em de longo alcance. Isso fez o tema ser bastante questionado e, atualmente, a sociedade enfrenta uma resistência, cada vez mais crescente, sobre as reais vantagens de se perceber inserida num mundo globalizado, quais seriam os ganhos concretos e as factuais perdas que se pode ter ao viver esse processo? Paralelamente a isso, tem-se o processo de descobrimento das novas identidades da sociedade contemporânea, o descobrimento do poder enquanto indivíduo, enquanto ser pertencente à uma raça e/ou país; não há mais a possibilidade de se enxergar a sociedade como homogênea, uma vez que cada qual tem sua particularidade. Os ambientes econômico e social têm aprendido, à duros golpes, a se atualizar; o que não tem acontecido com a mesma agilidade que a mudança, nem com o mesmo alcance que as tecnologias digitais possuem.
Essas tecnologias, por sua vez, tornaram-se ainda mais a extensão do homem, ao passo de estar sempre nas mãos de todos, tornando a sociedade cada vez mais dependente dos seus artifícios e utilidades. Celulares e suas redes de dados permitem uma contínua disseminação de informações, em tempo real, com atualizações a cada minuto, durante todo o dia, todos os dias da semana e sobre os mais variados assuntos. Os novos e mais modernos aparelhos associados à plataformas digitais, cada vez mais elaboradas e com suas redes sociais, permitem acessar informações, criar, compartilhar, postar e editar fotos e vídeos, conversar em tempo real, fazer ligações por vídeo, falando “ao vivo” com a outra pessoa; estar em lugares e culturas diferentes, criar e escrever conteúdos que serão divulgados, espalhados e comentados por diversas pessoas, e muito mais, tudo isso num aparelho que cabe na palma da mão e é todo comandado pelas pontas dos dedos.
E é dentro desse mundo altamente influenciado pelas plataformas digitais que o processo antiglobalização vem ganhando força; ainda que essa sociedade usufrua das tecnologias também proporcionadas pela evolução do processo econômico, a mensagem é não se permitir ser impactado pelo que a globalização incita, não modificar seus modelos de vida, cultura, processos educacionais, entre outros. Manuel Castells (2007, p. 239), notório sociólogo, define esse novo momento midiático da seguinte forma: “Como resultado, as relações de poder, que constituem as bases de todas as sociedades, bem como os processos que desafiam as relações de poder institucionalizadas, são cada vez mais moldadas e decididas no campo da comunicação.” Em resumo, as relações de poder estão num nível conflitante, sendo cada vez mais desgastadas pelas divulgações pulverizadas das plataformas digitais, criando assim, uma antítese daquilo que sua convergência se propunha a fazer.
Conclusão
Notadamente, a evolução da comunicação é o próprio processo de evolução do mundo, desde que as pessoas se entendem por pessoas, a comunicação esteve presente. Perceber seu desenvolvimento através dos anos, dos processos econômicos tão fortes e potentes de cada momento e dos avanços tecnológicos que surgiram com o passar dos anos; é poder compreender seu caminho e prever, ainda que sem dimensão da exatidão, novos horizontes.
Num mundo onde todos tornaram-se geradores de conteúdo, competindo entre si e com os mais consolidados e tradicionais meios de comunicação, onde os processos de identidade contemporânea estão em crescente mutação, e onde os processos econômicos estão sentido, de forma contrária, os efeitos das suas ações; é importante pensar no caminho que esses processos, interligados, levarão a sociedade e com ela a comunicação.
Quando parcela da população questiona as regras que lhe são impostas, os resultados aos quais a política global a levou e as sequelas econômicas agravadas por uma acirrada disputa de mercado; é, talvez, chegado o momento de analisar o quão desenvolvido um tema está perante os outros e se não é necessário permitir que os demais o alcance, antes de continuar avançando. Ou seja, num momento em que a comunicação parece estar à frente de seus pares, tecnologia e economia, no entendimento de não haver, ainda, movimentos tão contrários à sua existência ou que tentem frear seu progresso; porventura seja o momento de acalmar e permitir que eles a alcancem ou incentivá-los a isso; uma vez que sozinha, ainda que será sempre o processo mais contínuo e vital do ser humano enquanto pertencente à uma sociedade, ela não terá a mesma abrangência.
O acompanhamento desses progressos deverá continuar a ser feito, para que se possa perceber se houve, de fato, um alcance econômico e tecnológico às evoluções comunicacionais, se os movimentos resistentes ainda se mantém e qual seu nível de resistência, e se ainda é possível que os temas andem alinhados e em conjunto, como já visto antes. Provavelmente, em mais alguns anos, já será possível captar bastante dados que concedam análises mais concretas dessa evolução e como elas afetaram e foram afetadas pela organização global, suas novas sociedades, as relações destas com o mundo, entre si e suas novas identidades.
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