Ah, tanta coisa aconteceu nesse hiato sabático (vamos evitar o termo abandono de blog rs) que eu esqueço de narrar as sagas da minha vida. rs Antes da minha viagem de férias em 2016, eu fiz minha última escova progressiva, que eu fazia a cada 2 meses desde 2009; ou seja, já eram, 7 anos alisando as madeixas.
Fiz minha escova e viajei, fiquei a viagem inteira sem me preocupar com cabelo, afinal, eles estavam lisos e, se um dia eu não tivesse tanto tempo, poderia sair sem sequer penteá-los. Porém, um sentimento de liberdade começou a tomar conta de mim e eu não consigo precisar desde quando; apenas sei que ao voltar da viagem, tomei a importante decisão, da qual eu já estava fugindo havia alguns anos: parar de alisar o cabelo. E isso seria bem difícil pra mim, eu sabia disso. Comecei não indo fazer a escova no mês seguinte, como de costume, e fui vendo os milímetros de cabelo natural irem aparecendo e a raiz ficando cada vez mais rebelde.
Numa ida ao salão para hidratar, minha cabeleireira me disse: "eu acho que você não vai aguentar, você vai ceder à escova em breve." Essa frase! Foi essa frase que me fez seguir, porque se tem algo que não gosto (ou gosto) é ser desafiada e eu me senti assim; logo, eu precisava provar à ela e principalmente à mim que eu conseguiria, nem que eu alisasse em seguida, mas eu iria até o fim.
E lá foram-se passando os dias, os meses, o cabelo sem forma, complicado de cuidar, estranho, difícil de manter, você se olha no espelho e não se vê bonita, você não consegue ver nenhum benefício em estar daquela forma: metade cacheado + metade liso. Ainda assim, eu me mantive forte, cada ida ao salão era um corte de 3 a 4 dedos, até ele ficar um channel reto. Foi o melhor corte até aquele momento, pois dava para fazer pequenos coques, prender em rabo de cavalo e deixar solto, porém deixar solto requeria uma dose extra de coragem, porque ele não estava nada uniforme e isso me incomodava muito.
Certo dia (05/09), eu, que já havia me inspirado em diversos cortes curtos pela internet, resolvi fazer o corte que tiraria toda a parte lisa (o chamado big chop), mal sabia que esse dia seria bem libertador: primeiro, por deixar meu cabelo com apenas um tipo; e segundo, por deixá-lo curto, o que trouxe praticidade. Claro que o cabelo cacheado requer um pouco mais de cuidado, não tenho como sair de casa sem dar um jeito nele, mas é muito gratificante acordar com ele todo bagunçado (digo isso, pois antes acordava com metade bagunçada e metade lisa espigada). Mas o cabelo cacheado também traz uma leveza, traz um 'quê' rebelde, ele vai ter o formato que ele quiser, vai ficar comportado no dia que ele quiser (e ele nunca quer) e isso é bem como todos deveriam ser: como realmente são, sem se deixarem ser moldados, seja pela sociedade, seja pela vida.
Por fora, uma "simples" transição capilar. Por dentro, toda uma revolução de conceitos, de vida, de momentos, toda uma liberdade que veio junto. Não deixo me abater pelo que dirão, pelo tamanho que ele tem atualmente, pelo "ser" rebelde que é, pelos cachos ora pra um lugar, ora pra outro; eu vou seguindo, com meus pequenos cachinhos, curtindo bastante esse corte moderno e que super combinou comigo e com meu momento atual.
Para seguir forte, sigo dicas de pessoas inspiradoras como a Carla da página Modices e muitas outras que curto ou tropeço pelo caminho. Após o corte, descobri que brincos grandes são bem vindos, batons escuros também, tiaras, lenços e arcos mais ainda; assim comecei a enxergar e a construir uma nova beleza que estava adormecida em mim. E fico feliz que essa mudança veio num excelente momento: de vida, de beleza (os cachos estão super na moda e valorizados) e do país, que vive uma onda de preconceitos cada vez maior.
Certo dia li que deixar o cabelo cacheado ao natural ou adorná-lo com faixas e turbantes não era apenas um ato de beleza, mas sim, um ato de resistência, de força e de coragem. Eu, na época, não havia entendido, até ter os cachos, ainda que curtos, de volta à cabeça; porque tê-los numa sociedade que te diz que você precisa ser branca, hétero, magra, com seios fartos, cabelo liso e bem maquiada para ser considerada bela é, sim, um ato de resistência, de força e de coragem.
Sendo assim, viva nossos cachinhos e toda essa liberdade e resistência que os acompanha. E que eu, particularmente, estou adorando viver. 😉
Antes (setembro/2016)
Agora (setembro/2017)
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